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OS PERIGOSOS SUCOS DE FRUTAS E OS RESPEITÁVEIS AGENTES DA LEI (OU VICE-VERSA)
Luiz Angelo Pinto

 

MAIS UMA AGRESSÃO AO LAZER OU "O PODER EMPAREDADOR"

Li na Veja/São Paulo (24/11/01) a matéria sobre o fechamento, sobre a constante tentativa de fechamento pelas autoridades municipais daquele simpático local de venda de sucos de frutas na esquina da av. República do Líbano com rua João Lourenço.

Não vou discutir aqui as "razões" das autoridades se é que existe alguma.

Sem muita conversa: é claro que o local não prejudica nem incomoda ninguém. É ponto de encontro e bate-papo de uma moçada que vai até lá tomar um suco ou comer o já tradicional açaí na tigela. Tudo tranqüilo, tudo muito civilizado, não fosse a truculência, a extrema violência, a descarada arbitrariedade e a despropositada demonstração de poder da autoridade municipal. O local foi fechado e murado!, emparedado! pelas autoridades municipais.

A LEI... POIS SIM...

Não me venham com "desrespeito à Lei de Zoneamento, construção e reforma irregulares, ausência de alvará de funcionamento adequado".

Se fossemos levar isso a sério, teríamos que paralisar mais da metade da cidade, justamente a metade que está funcionando.

CORRUPÇÃO? NEM PENSAR!

Se os fiscais municipais não fossem pessoas de ilibada reputação, comprovada honestidade, imunes a qualquer forma de corrupção, eu até poderia imaginar que tudo isso teria começado como perseguição a uma comerciante que se recusou a fazer o devido "acerto" no momento adequado. A gente ouve tantas histórias, tantas calúnias... Mas, como disse, isso está fora de questão. Os fiscais municipais, tenho certeza, nunca, no exercício de suas nobres funções... de suas nobres funções... bem, vocês entenderam.

A CIDADE QUE DÁ CERTO. APESAR DAS AUTORIDADES

Entre tantos locais vazios (milhares de imóveis fechados para alugar ou para vender), tanta coisa que não funciona, tantos empreendimentos que não dão certo, tantas tentativas frustradas de se fazer alguma coisa de positivo nesta cidade, tenho sempre prazer em ver e acompanhar os poucos locais que funcionam, que resistem, criam espaços que poderiam estar em qualquer bom centro urbano do mundo e fazem com que esse caos em que vivemos, às vezes, em alguns lugares, se pareça com uma cidade.

LEGISLAÇÃO MUNICIPAL OU O SAMPA DO CRIOULO DOIDO

Leis herdadas da burocracia ibérica (exigências de alvarás e coisas que tais), leis feitas por uma câmara de vereadores onde sempre imperaram a ignorância e a incompetência (para não dizer mais), leis feitas em defesa de inconfessáveis interesses, leis feitas com o único intuito de criar dificuldades, leis feitas para gozar a população, leis que estão aí só para atrapalhar. Leis feitas por esse pessoal e dessa maneira não podem ser levadas a sério.

Não vou enumerar e analisar aqui o imenso festival de besteiras que é essa legislação municipal. O assunto merece mais espaço e melhor desenvolvimento. Algum dia ainda faço.

Mas, dizia, não vamos levar a sério essas cerca de 6.000 posturas municipais cuspindo (para não dizer outra coisa) regras sobre todas as atividades, espaços, tamanhos, distâncias, horários, alturas, larguras e o que mais o legiferante delírio inventar para atazanar, dificultar e impedir a vida na cidade.

"O GRANDE NÚMERO DE LEIS SEMPRE COMPROVA A INEFICÁCIA DELAS" (Ferdinando Galiani, Della Moneta)

Deu no que deu. A cidade é essa droga que hoje vemos por aí, infestada de camelôs disputando espaço com hordas de sem-teto e bandidos de todas as idades e calibres. E, no meio de tudo isso, esses pequenos empresários lutando para sobreviver e sendo constantemente jogados na clandestinidade pela ação dos agentes da Lei, em nome da Lei.

SÃO PAULO, ESSA TRISTE HISTÓRIA

Administrações que vêm de Jânios a Malufes e filhotes não poderiam dar noutra coisa. O nefando conúbio, por tanto tempo, entre legislativo e executivo, onde o povaréu inculto e nada belo só tem servido como massa de manobra e de voto para legitimar "democraticamente" o banditismo, não poderia ter outro resultado.

Lamento por tudo isso. Lamento por mim, paulistano. Vivi, cresci, brinquei, estudei, amei, trabalhei aqui. Curti e, cabeça dura que sou, ainda curto esta cidade. Lamento por todos nós que vivemos aqui, por este povo, por este espaço, pela chance que tivemos e perdemos de ter sido a grande cidade cosmopolita do hemisfério sul. Fomos e somos uma potência econômica e um cadinho cultural incomparável, mas faltou alguma coisa: fortuna ou virtú, lembrando Maquiavel. Ou, pensando melhor, talvez tenham faltado as duas coisas... Mas estou divagando...

UMA OPORTUNIDADE HISTÓRICA

Não, é claro que a atual administração não é a culpada por todas as mazelas que vêm de décadas de desgoverno. Mas uma coisa é certa: essa administração está perdendo a oportunidade histórica de, com a honestidade que tem e a coragem que ainda está por demonstrar, mudar. Mudar o pouco que pode ser mudado. Se, esse grande sonho, mudar o mundo, está difícil, vamos começar por mudar a cidade. Talvez seja possível. Para saber, só tentando. E, com certeza, não vamos mudar e melhorar esta cidade combatendo, fechando e emparedando as pequenas empresas "em nome da Lei", essas pequenas empresas que, sem subsídios ou favores, arriscam o pouco que têm, que mantêm esta cidade e este país funcionando, no que ainda funciona, que pagam salários, pagam aluguéis, pagam contas, pagam impostos, tantos impostos, multas e propinas, prestam serviços e com o seu modesto e difuso trabalho criam cultura, constróem civilização — fazem, ou tentam fazer, deste lugar uma CIDADE.

 
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última modificaçao: November 25, 2001